terça-feira, 4 de dezembro de 2012

A verdade para quem não tem tempo a perder


* Por Isadora Leone

Desde que entrou no ar a  campanha publicitária do cartão de crédito da VISA sempre me incomoda. Essa que o atendente diante de um pedido esquisito do cliente, pergunta se pode dizer a verdade e acaba dizendo que pagar com o tal cartão é muito melhor, enquanto que na verdade ele deveria dizer que: a cor que o cara queria para o cabelo era horrível, não se presenteia uma mulher com um ferro de passar no aniversário de casamento e por fim, não se leva duas crianças enlouquecidas para uma viagem zen no Tibet.
Já trabalhei em lugares e com pessoas (lê-se chefes) que tinham ideias mirabolantes, megalomaniacas e despropositadas (só ao ver deles que não) e que tinham, por que tinham,  que ser colocadas em prática CQC. Claro que já tive minhas chances de falar, com jeitinho, que talvez fosse melhor de tal jeito ou que teríamos problemas com a estrutura do piso se colocássemos todas as toneladas que ele queria.  O fato é que as consequências não são muito boas pra quem diz a verdade ou expressa a sua opinião contrariando a “entidade superior”. As chances de ouvir um grandessíssemo “E daí? É assim que eu quero.” é imensa! Nessa hora a verdade vai pro ralo, o cansaço vem e você sem perceber está mentindo, aceitando e submetendo a gritante coerência ao fim catastrófico. Isso é ruim e faz muito mal para quem poderia falar e para quem poderia ouvir, por mais que esse último relute a aceitar, de novo, a verdade!
Tenho uma historinha sobre isso!
Uma vez eu fiz um pedido para produção de papel timbrado da empresa onde trabalhava e era a primeira vez que fazia aquilo. Procurei informações, mas não suficientes e acabei fazendo um pedido para papel com a gramatura 90 (pra quem não sabe é a medida da grossura e densidade do papel). O fornecedor aprovado era calouro lá e prontamente imprimiu exatas 10 mil folhas, isso mesmo 10 mil folhas! Quanto o pacote chegou e eu feliz da vida coloquei na impressora um trabalho de 200 páginas, as folhas ficaram como os cachos da Elba Ramalho. Chorei. De verdade! Liguei para um antigo fornecedor (um pouquinho mais caro – eu sei, eu sei, mas essa é outra história) e perguntei porque aquilo deveria ter acontecido. E ele me explicou que deveria ter feito a de 60 para o fim que queria. Quando questionei o fornecedor premiado, ele me disse que até viu mesmo era esquisto um papel timbrado com 90g, mas quis me agradar e até tinha feito pelo mesmo preço do de 60! Oi? Eu juro que preferia ter ouvido a verdade. Não posso publicar o que fiz com as 10 mil folhas erradas.
Eu acredito que a verdade deva ser dita sempre, por mais que ela doa. E o compromisso com ela é todo seu, seja você o “sudito”ou a “entidade superior”. Como empreendedor então, esse dever é maior ainda, afinal você não tem tempo a perder e o cliente, nunca deveria ter também. E por mais que doa essa verdade, em grandes empresa o tempo não é seu de verdade. Talvez seja por isso que o cara da VISA não pensou em incluir pequenas frases no final dos filmes como: “Pagar com VISA e usar essa tinta no cabelo, dar um colar para sua esposa e viajar para a praia com seus dois filhos enlouquecidos, é muito melhor”. Eles mereciam ouvir isso, não mereciam?


Isadora Leone é mãe do Pedro e do André, empreendedora, diretora da PitchCom - Assessoria de Imprensa para pequenos empreendedores e colaboradora do Rede Mulher Empreendedora


2 comentários:

  1. Isa, adoro ler seus textos! Além de terem sempre um tom divertido vão direto ao ponto com muita clareza! Parabéns!!!

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  2. Cibele, obrigada pelo comentário! Estou treinando a escrita, errando aqui e acolá, mas o mais legal é organizar as milhões de ideias e coisas que passam na minha cabeça! Estou adorando! Você devia tentar também, você tem tanto a dizer! Beijos

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